Antes de começar gostaria de dizer que cada pessoa fala/escreve de um lugar, de um tempo. O que estou fazendo aqui, é completamente experimental. Então, sou eu falando/escrevendo sobre o que é ser indígena a partir da experiência de estar nos mundos (ou no mundo) atravessada pelas histórias, as culturas, as linguagens, entre outras mil coisas, nada disso é fixo nesse sentido, tudo é movimento. Além disso, costumo dizer que as coisas são datadas. Isso não é uma fala de impacto, pois assim as coisas são, para mim, por exemplo, foi assim em relação ao autorreconhecimento.
Estamos aqui com essa palavra “indígena”, e sim, ela é genérica, problemática e pode carregar vários sentidos/significados, entre outras coisas que não serão negadas por mim, mas se paramos para pensar ela tem sido usada para substituir a palavra “índio”, o que se pode dizer mais, além do que foi dito, é o sentido pejorativo produzido/reproduzido desde a chegada dos invasores nas terras daqui, a massificação discursiva de colocar todos, que aqui estavam, da mesma forma, como sendo a mesma coisa. Então penso ser arriscado dizer que a troca de uma palavra é suficiente para não atribuir o sentido pejorativo.
Será que depois de todas as formas de violência que ainda vivem os povos indígenas, daqueles que sobreviveram até a atualidade, eles/nós não entendemos que precisamos nos organizar sobre uma palavra/categoria mesmo que seja problemática dentro dessa sociedade ocidental dominante? Logo, ser indígena é anunciar isso para o mundo, é um posicionamento político. Dito isso, impressiona a muitos brancos e a sociedade ocidental que reivindiquemos o direito à vida e a melhores condições materiais de vida a partir da cultura de cada povo. Depois, desconfio que o processo de nos enganar/escravizar/matar (nessa ordem) ainda é entendido como um “direito” (justificado por uma pretensão de superioridade) intrínseco ao que desejam exercer, que nunca foi possível sem resistência e luta.
Ser indígena não é se esconder por baixo do genérico, quando os indígenas/parentes se reúnem a pergunta primordial é: de que povo você é? (Alguns não indígenas também perguntam, contudo são aqueles com certo tipo de conhecimento), então percebemos o que os outros não percebem, somos diferentes certamente, viemos de um lugar, atravessamos os tempos, vieram outras pessoas antes de nós, significamos de forma única. Isso não tem um caráter pejorativo, o encontro com uma pessoa igual/diferente ao mesmo tempo é sinal de reconhecimento, aprendizado, experiência, saudação, já que um povo pode/deve contribuir com o outro.
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